Quis anteriormente falar um pouco sobre o sofrimento para entrar no assunto que acredito que o título já entrega. Quantas e quantas vezes somos "ensinados" a corrermos atrás daquilo que nos faz bem porque "o que importa é ser feliz". Detalhe, tem que fazer-nos felizes porém só coisas daqui do "mundo", nada de Igreja, nada de Jesus, nada disso porque é "perca de tempo" e "não agrega em nada". Que liberdade, não é mesmo?
E nessa busca constante pela felicidade perdeu-se o sentido e a importância do sofrimento, e nos transformou em seres que não suportam uma contrariedade, um desconforto, deixando-nos mimados e birrentos, e a Verdade deixou de ser buscada pois ela trás consigo a dor. Todo cristão sabe - ou deveria saber - que a medida das coisas não é a felicidade, mas que a Verdade está acima da felicidade sempre. A Verdade é uma Pessoa, Cristo - com sua moral clara e infinito perdão e misericórdia -, enquanto a felicidade é um sopro. E uma vez que essa Verdade é negada, o céu, tudo o que é infinito é negado, e por fim, a salvação. A Verdade nos diz "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la" (Mt 16, 24-25). São Luís Maria Grignion de Monfort nos diz na Carta aos Amigos da Cruz:
"Tendes aí meus queridos associados. Tendes aí os dois partidos que se apresentam a vós todos os dias: o partido de Jesus Cristo e o partido do Mundo. A vossa direita tendes o nosso Amável Salvador. Este, avança para uma estrada bem mais estreita e dificultosa devido à corrupção do mundo. A testa da fila vai ao Divino Mestre, de pés nus, com a cabeça coroada de espinhos como o corpo, coberto de sangue e carregando a pesadíssima Cruz. Só um punhado de pessoas o segue e essas são efetivamente corajosas. Enquanto aos restantes, ou a sua voz não chega até elas devido aos tumultos do mundo ou então não se tem coragem de seguí-lo na pobreza, na dor, na humilhação e nas outras cruzes que todos os dias da vida, obrigatoriamente, é necessário carregar com Ele.
A vossa esquerda tendes o partido do demônio. A primeira vista este é o mais numeroso, mais esplêndido e atraente do que o outro. A elite dos indivíduos corre atrás dele, acotovelando-se apesar do seu serem caminhos largos e espaçosos devido às multidões que por lá passam como torrentes. É uma estrada toda coberta de flores, rodeada de diversões e prazeres, coberta de ouro e de prata. A direita o pequeno rebanho que segue Jesus Cristo falam só de lágrimas, de penitência, de oração e de desprezo do mundo. Os mundanos, pelo contrário, parecem encorajarem a perseverar nas suas maldades sem escrúpulos. Todos os dias gritam os seus slogans: “a vida, a vida, vivamos a vida! Paz, alegria, comamos, cantemos, dancemos, divirtamo-nos! Deus é Pai de Misericórdia e não nos criou para depois nos condenar. Deus não nos proíbe o divertimento, por isso não seremos condenados. Nada de escrúpulos, portanto! Não, não morrereis.”".
Nada mais importa do que o céu. Nada mais importa! Que grande honra é sermos os membros do Corpo de Cristo. E por tão nobre título é justo que muito custe o que muito vale; que nos custe também uma participação no carregamento da cruz. Se a testa da fila - Jesus - é coroada de espinhos, será que é justo que os membros - nós - sejam coroados de rosas? Se a testa está escarrada coberta de sangue no calvário será que é válido que os membros estejam cobertos de perfume no trono real? Foi a Verdade que te deu a vida, que sacrificou por ti, morreu por ti. Essa mesma Verdade que te deu uma nova chance de viver a vida eterna mesmo que depois expulsos do paraíso. Quando aceitamos a Verdade à nossa felicidade, é como dois rios que se encontram formando apenas um para serem despejados no imenso oceano e se "perderem", deixando de serem aquilo que eram passando a ser aquilo que foram destinados a serem - deixaram de ser um pequeno rio para caminharem ao oceano que os guardava. Já o contrário nos leva a ser como uma pedra dura que não caminha a favor das correntes mas se estagna, sem uma finalidade, sem rumo, não se mistura por entre as águas mas passa ao redor dela pois não são a mesma coisa. Enquanto a água se mistura e se "perde" dentro oceano, deixando levar-se e penetrar-se inteiramente por ele, a pedra recebe somente os toques por fora e a água não consegue invadí-la, pois esta é tão dura por dentro que as correntes não conseguem entrar.
Despeço-me com uma pergunta que Nossa Senhora fez à Santa Catarina de Siena:
“Filha, deverás usar estas duas coroas, uma em seguida da outra. Usarás a coroa de espinhos enquanto viveres neste mundo, para receberes a de pedras preciosas na eternidade, ou preferes usar a coroa de pedras preciosas nesta terra, e depois receber a de espinhos no outro mundo? Faze tua escolha.”.